segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Bach-Busoni: Chaconne, por Hélène Grimaud


Ouçam e vejam essa maravilha!!! Trata-se da magistral transcrição que Ferruccio Busoni, um dos maiores pianistas da história, fez em 1892 para a Chaconne de Bach. 

Quase todos sabem: a obra original é simplesmente um dos maiores monumentos da arte musical. É impressionante a beleza, assim como a complexidade, a profundidade, a altitude, enfim é de se espantar a que ponto chega a expressão artística do ser humano!!! Não é para menos, afinal estamos falando de Bach. E não podemos esquecer que a Chaconne é um movimento da Partita No.2 que por sua vez pertence a um dos conjuntos de peças que Bach escreveu em 1720: as 6 Sonatas e Partitas para Violino Solo. Ou seja, todas para um único violino!!! Especialmente na Chaconne há momentos em que um único instrumento soa como um órgão; em outros, como uma orquestra inteira. Só mesmo Bach!

E ainda assim é unânime a opinião de críticos, músicos e musicistas: a transcrição de Busoni para piano solo da Chaconne está no mesmo nível da original de Bach.

O que é Chaconne? Ou Ciaconna? que é a grafia na Itália, de onde originou a estrutura desse tipo de música instrumental muito frequente na Era Barroca. O musicólogo austríaco Karl Geiringer explica: "Trata-se de uma coleção de variações interligadas num padrão harmônico derivado de um simples baixo de quatro compassos. As variações apresentam-se usualmente em pares, em que a segunda realça sutilmente o conteúdo da primeira variação."

É ainda interessante dizer que Bach, segundo alguns historiadores, criou a sua Chaconne como um 'réquiem', recordando sua esposa e prima Maria Bárbara que havia falecido naquele mês de julho de 1720. O compositor encontrava-se em viagem e não conseguiu regressar a tempo para sequer despedir-se de sua amada que subitamente falecera. Por isso é que se diz: a Chaconne é o mais profundo cântico fúnebre que já se escreveu para um instrumento solo, fúnebre e ao mesmo tempo de uma luminosidade incomparável. Inicia com um lamento de dor, atinge o clímax na pura luz e termina com um lamento de saudade. É assim que eu tento compreendê-la.  

Há vários excelentes intérpretes cuja execução impressionam, tanto no violino (a de Milstein é a minha preferida) quanto no piano (existe inclusive uma magnífica gravação do próprio Busoni registrada em fita de rolo). Mas dentre tantos escolhi Hélène Grimaud para que tenhamos mais um espanto: ela é linda e elegante. Quem disse que talento não anda junto com beleza física? Uma obra como essa interpretada por beleza assim é duplo prazer. Quem discorda? Eu confesso: fico em êxtase e os meus ouvidos e os meus olhos agradecem.

Nem preciso dizer que é quase sacrilégrio ouvir uma obra desse nível sem a devida compenetração. Por isso, peço-lhes: quando estiverem em casa bastante tranquilos, sem qualquer ruído para atrapalhar, deixem carregar esse video, ouçam sem interrupções. É o mínimo de respeito que devemos para os geniais Bach e Busoni e para a talentosa e bela Grimaud...!




sábado, 24 de novembro de 2012

Círculo em Espiral


Ainda é manhã. A neblina
cobre parte do caminho
na escarpa de urzes.

À medida que o sol se levanta,
dissipam-se as réstias da água
condensada pelo mistério da noite.

O que antes era só gesto na névoa,
ciranda do incogniscível,
bailado de corpo em sombra,
jogo de luz a esconder semblantes,
aos poucos toma contorno.

Todas as formas tomarão
o sentido da verdade
que há de nos emocionar, um dia,
pela compreensão dos planos divinos
no centro da espiral constante.


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Dimitri Cervo: Abertura Brasil 2012



Se eu fosse compositor e visse em um programa de concerto o meu nome junto de Beethoven e Villa-Lobos, ... penso que só este fato já bastaria para que me sentisse realizado na proposta de criar música de qualidade. Por isso tento imaginar a sensação de Dimitri Cervo na estréia de sua Abertura Brasil 2012 no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em 3 de novembro e reapresentada no dia 8.

Dimitri Cervo é compositor brasileiro contemporâneo, nascido em 1968 no belo Rio Grande do Sul.  Gosto de sua música: é comunicativa, limpa, frequentemente estruturada em um minimalismo criativo, e aproveita bem o rico folclore gaúcho, o nordestino e de outras regiões; é autêntica música brasileira, mas vai além, expande-se, não se prende a escolas ou modismos, nem a fronteiras nacionalistas ou a experimentalismos cacofônicos.

Apreciem a Abertura Brasil 2012 de Dimitri Cervo: a alegria, a sensação de paisagens, de cores e aromas... a atmosfera de campo aberto, a lenta preparação que culmina em júbilo. Uma bela peça muito bem interpretada pela Orquestra Sinfônica Brasileira, na regência de Leandro Carvalho.