(para V.)
Se na jornada perderes o ânimo
e como selva se escurecer o caminho,
e extinguir o lume a esperança,
não sintas medo da vida.
Lembra-te: em algum lugar
há alguém sempre pensando em ti.
Se me chamares e eu não ouvir,
acaso eu estiver imerso
no sono das distâncias,
deixa o recado no primeiro vão
de perobeira, nos limites da estrada,
ou sob uma pedra assinalada.
Algum anjo-viandante o trará até mim.
E eu te alcançarei, te trarei comigo
para que em meu coração
adormeças a alma cansada.
A minha choupana será teu abrigo.
De bálsamo se cobrirá o meu olhar.
Para ti guardei o riso, o amor -
pão que sacia todas as fomes.
Não te inquietes, não sintas medo.
Descansa! Durma, apenas durma.
Quando surgir o novo dia, e novamente
o sol dourar as sinuosas vias do destino,
eu cuidarei de ti.