O
perdão continua sendo um ideal a ser alcançado. Falo do perdão verdadeiro, sem
hipocrisia. É um estágio evolutivo que a humanidade ainda não alcançou, com
exceção de alguns poucos seres, almas velhas que por aqui passaram incontáveis
vezes; e em cada vez, já compreendem a fraqueza humana, e adquirem forças para
perdoar. Fora esses casos, nós e a maioria dos que ainda somos humanos, no
sentido vasto da palavra, temos que galgar degraus, sendo o primeiro deles
evitar todo tipo de vingança, ainda que vivenciemos intimamente o momento de
raiva diante das ofensas. O outro passo é trabalhar essa raiva em nós com
lucidez, e fazer o possível para que não seja transformada em vibrações de ódio
direcionadas para a pessoa que nos magoa. Creio que não desejar o mal já seja
um ato benigno que algum dia pode nos levar ao perdão de fato. E é melhor
aceitar o fato de que a tristeza e a magoa são uma realidade em nós do que
fingir um grau de evolução espiritual que ainda não alcançamos.
Talvez,
por isso é que Salomão, homem rico que tudo tinha, só pediu a Deus uma bênção:
a sabedoria. Estando de posse dessa graça, adquire-se saúde e paz, compreende-se
a fé e o amor com justiça. Mas até mesmo Salomão equivocou-se, pois sabedoria
não é um presente que se ganha simplesmente. Na verdade, é uma riqueza que se
conquista com o tempo, através de reflexões e ponderações. De tal forma a
sabedoria é uma dádiva conquistada que vamos compreendendo que ela não é
sinônimo exato de velhice. Nem todos os velhos são sábios. A idade não é
contada pelos anos simplesmente vividos, mas sim pelos momentos de reflexão
pelos quais as lições são assimiladas, tornando-nos pessoas melhores.
O
que podemos pedir a Deus senão a lucidez para estarmos atentos aos sinais e às
oportunidades para que esse aprendizado nos leve à sabedoria? Sabedoria e
capacidade de perdão são conquistas. Quando sentimos ódio temos que aceitá-lo
como tal, e com lucidez entendermos que a ofensa e a humilhação nos acarretam
no mínimo uma grande tristeza. É uma reação natural e humana. O que fizermos
desse sentimento é que se torna responsabilidade nossa. Se o estendemos por
anos a fio, desejando o mal a quem nos feriu, é causa e efeito que somente nós
podemos modificar.
Em
resumo, ainda que compreendemos em nós por enquanto, com realismo e humildade,
a incapacidade de perdoar, podemos também ter a alegria de que já conseguimos
não desejar o mal ao ofensor. É um auspicioso degrau na escalada ao ideal do
perdão puro.
Um comentário:
"O que fizermos desse sentimento é que se torna responsabilidade nossa"
È verdade amigo, sabedoria e capacidade de perdão são conquistas...
Belo texto
Muita luz
Ana Coeli
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