Se
é que realmente aconteceu, um dos trechos mais interessantes do Novo Testamento
é quando Pilatos pergunta: "Que é a verdade?".
Quem
pode dizer com exatidão o que foi, o que é, e o que será?
As
Religiões surgem de experiências individuais que se tornam em crenças coletivas
amparadas por dogmas. Ora, o mito é a base da religião, e mitos são construídos
por sociedades organizadas e quase sempre tendenciosas.
Assim
também a História: múltiplas são as testemunhas oculares e diversos os ângulos
dos fatos observados que, posteriormente, são relatados por historiadores que
podem se confundir ou, pressionados, vendem-se ao poder vigente. Por isso, no
decorrer do tempo, tantos vilões e heróis, ora um ora outro, são execrados ou
inocentados.
As
Ciências também não possuem a palavra final, pois lidam com verdades
provisórias; o que hoje é entusiástico enunciado, amanhã pode ser motivo de
riso. Recorde que o nosso planeta já foi estático, recorde que a terra como
centro do universo já foi idéia convicta e certa.
A
Filosofia, que tende a dissecar a verdade, apoia-se em premissas, que podem ser
equivocadas, dependendo da tendência unilateral do pensador. Pensar com
sabedoria é dádiva de poucos. No Oriente, consideram sábios aqueles que dançam
em torno de um objeto para vislumbrá-lo de todos os lados.
Restam-nos
as Artes, e estas não querem provar verdade alguma; pelo contrário, com os véus
do mistério obscurecem-na entre a nitidez e a névoa. As Artes são as únicas que
aceitam humildemente a incerteza que há na vida e nas coisas do mundo: de que
tudo pode ser e pode não ser.
Evidentemente
que não estou a desmerecer a conquista das ciências, ou o esclarecimento da
história, ou os benefícios da filosofia e das religiões. Quem crê em nada
carrega a mesma tolice daqueles que acreditam em tudo. O que me preocupa é a
estagnação pela certeza, quando o resultado das investigações torna-se em dogma
religioso, científico, seja ele qual for, que estreita os caminhos, que entulha
de pedras a passagem estreita, transformando as possibilidades em garganta
fechada, por onde é impossível entrar ou sair, enfim, de transitar livremente.
Talvez,
naquela remota época, Pilatos, o procurador romano, só quisesse dizer: cada
qual abrace a própria verdade mas, por gentileza, não a proclame como se fosse
a única verdade verdadeira.
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