Ouçam e vejam essa maravilha!!! Trata-se da magistral transcrição que Ferruccio Busoni, um dos maiores pianistas da história, fez em 1892 para a Chaconne de Bach.
Quase todos sabem: a obra original é simplesmente um dos maiores monumentos da arte musical. É impressionante a beleza, assim como a complexidade, a profundidade, a altitude, enfim é de se espantar a que ponto chega a expressão artística do ser humano!!! Não é para menos, afinal estamos falando de Bach. E não podemos esquecer que a Chaconne é um movimento da Partita No.2 que por sua vez pertence a um dos conjuntos de peças que Bach escreveu em 1720: as 6 Sonatas e Partitas para Violino Solo. Ou seja, todas para um único violino!!! Especialmente na Chaconne há momentos em que um único instrumento soa como um órgão; em outros, como uma orquestra inteira. Só mesmo Bach!
E ainda assim é unânime a opinião de críticos, músicos e musicistas: a transcrição de Busoni para piano solo da Chaconne está no mesmo nível da original de Bach.
O que é Chaconne? Ou Ciaconna? que é a grafia na Itália, de onde originou a estrutura desse tipo de música instrumental muito frequente na Era Barroca. O musicólogo austríaco Karl Geiringer explica: "Trata-se de uma coleção de variações interligadas num padrão harmônico derivado de um simples baixo de quatro compassos. As variações apresentam-se usualmente em pares, em que a segunda realça sutilmente o conteúdo da primeira variação."
É ainda interessante dizer que Bach, segundo
alguns historiadores, criou a sua Chaconne como um 'réquiem', recordando sua esposa e prima Maria Bárbara que havia falecido naquele
mês de julho de 1720. O compositor encontrava-se em viagem e não
conseguiu regressar a tempo para sequer despedir-se de sua amada
que subitamente falecera. Por isso é que se diz: a Chaconne é o mais
profundo cântico fúnebre que já se escreveu para um instrumento solo,
fúnebre e ao mesmo tempo de uma luminosidade incomparável. Inicia com um
lamento de dor, atinge o clímax na pura luz e termina com um lamento de
saudade. É assim que eu tento compreendê-la.
Há vários excelentes intérpretes cuja
execução impressionam, tanto no violino (a de Milstein é a minha preferida)
quanto no piano (existe inclusive uma magnífica gravação do próprio Busoni
registrada em fita de rolo). Mas dentre tantos escolhi Hélène Grimaud para
que tenhamos mais um espanto: ela é linda e elegante. Quem disse que talento não anda
junto com beleza física? Uma obra como essa interpretada por beleza
assim é duplo prazer. Quem discorda? Eu confesso: fico em êxtase e os meus ouvidos e
os meus olhos agradecem.
Nem preciso dizer que é quase
sacrilégrio ouvir uma obra desse nível sem a devida compenetração. Por
isso, peço-lhes: quando estiverem em casa bastante tranquilos, sem qualquer
ruído para atrapalhar, deixem carregar esse video, ouçam sem interrupções. É o
mínimo de respeito que devemos para os geniais Bach e Busoni e para a talentosa e bela Grimaud...!
2 comentários:
Muito sabio meu caro, as três partes são bem perceptíveis, e mais ainda como a parte intermediária parece uma orquestra. Mas a terceira...é de arrepiar. Obrigado
Meu caro amigo Ailton!
você escreveu belas palavras sobre a maravilhosa Chaconne de Bach e sobre a linda Hélène Grimaud. Entretanto a interpretação de Athur Rubinstein me parece insuperável.
https://www.youtube.com/watch?v=NKYyiD8ypCo
Sei que isto depende de fatores internos pessoais e de cada momento que a gente está vivendo, mas Rubinstein "pegou pesado"... Ouça e prepare-se para aqueles "frios na espinha"...
Sugiro também a linda interpretação de Sanel Redzic (transcrição de Segóvia) https://www.youtube.com/watch?v=BtT9cEipTos
Grande abraço!
Nos vemos em Muzambinho.
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