segunda-feira, 3 de março de 2014

Conto Oriental


Ah, branca ave,
branca e bela no cativeiro,
como podes tu cantar ainda?
se o horizonte é mistério
e a tua espera é eterna
e tanto voas mas só
no sonho interrompido?

De que é feita essa melodia
triste como os caniços
onde o vento sopra e sopra
e depois vira rumo e te deixa
vazia - flauta que soluça?
Esse cantar que amo?
para mim apenas
é que amo assim?

Liberta a ave!
disse-me, um dia, o sábio hindu,
com ternura.
Ama-a, ama-a sempre,
mas lá na natural morada,
nas nuvens distantes,
feliz na própria canção de viver.
Momentos há - disse-me ele -
que o maior amor
é libertar o que mais se ama.

Numa noite a meditar à lua clara,
do velho brâmane
a refletir o bom conselho,
compreendi, por fim.
E no outro dia - era primavera,
mas as flores não sorriam -
ouviu-se na gaiola dourada
a portinhola que se abria.
Silenciosas - as palavras.
Sorri, apenas sorri
para a avezinha tímida -
a mesma que me trazia o sol
todas as manhãs:

Voa, ser que amo,
voa livre, segue em paz
para o teu Azul!






Image from Mindrolling Jetsün Khandro Rinpoche
http://www.khandrorinpoche.org/featured-quote/

3 comentários:

Anônimo disse...

Gostei muito! Obrigada!

Jose Balbino de Oliveira disse...

Caro poeta, Seu site é um refugio para o bom gosto.
Fiquei encantado com as suas postagens e a sua prosa!
Um grande e forte abraço,
Jose Balbino de Oliveira

Eli Muzamba disse...

Quanta delicadeza, e um amor à beira da devoção.
E uma eternidade concentrada em palavras, intacta, imóvel.
Maravilhoso amigo, como pode fazer voar o leitor dessas palavras.