quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Cântico de Agradecimento


Adeus, Primavera!
Adeus, Outubro dos lírios e dos jasmins!
Outubro das rosas e das margaridas!
E lótus, miosótis, rododendros de terras distantes!

Sei que carrego comigo um pouco de tuas fragrâncias,
um pouco da dança febril, da embriaguez das cores,
do deslumbramento da primeira paixão,
das risadas que dei em teus jardins.

E tenho certeza que deixo um pouco de mim
nas tristes violetas que pendem de tuas hastes
no aceno de adeus,
um pouco de mim no teu chão de ilusões despetaladas.

Obrigado! Primavera,
pela coroa de avencas que trago hoje,
murcha entre os cabelos.
E só murchou porque um dia
me deste a oportunidade de tecê-la.

Agora é Verão.
Há um círculo de pedras ásperas no horizonte
e uma planície longa e vermelha para cultivar.
O dia cobre o chão rendado de cicatrizes.
A poesia tem um cheiro acre de suor.
E aconselha-me a continuar
a plantação das sementes na terra seca.

Passam os dias. Aprendo um novo sorriso.
Olho a aridez à minha volta, e canto:

Vinde a mim tangerinas e maçãs, peras e romãs!
Vinde a mim polpa e sumo das framboesas!
que já vejo invisíveis nestas valas que abro,
nestes cortes que guardam a vida.
Obrigado Sol, obrigado doce suor de Verão!

Aproveitemos a milagrosa inspiração do instante,
que não há de retornar, nunca mais!


Foto: a.rocha 2010

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Jorge Luis Borges: Ausência


Haverei de levantar a vasta vida
que ainda agora é teu espelho:
cada manhã haverei de reconstruí-la.
Desde que partiste
quantos lugares se tem tornado vãos
e sem sentido, iguais
às luzes no dia.
Tardes que foram nicho de tua imagem,
músicas em que sempre me aguardavas,
palavras daquele tempo,
eu terei que quebrá-las com minhas mãos.
Em que cavidade esconderei minha alma
para que não veja tua ausência
que como um sol terrível, sem ocaso,
brilha definitiva e sem piedade?
Tua ausência me rodeia
como a corda à garganta
o mar ao que se quebra.


Jorge Luís Borges (1899-1986)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Carinho pelos Bichanos e Cães


Tenho a maior simpatia pelos cachorros. Não tenho dúvida de que eles herdarão o céu. Os cães possuem a suprema lealdade, pressentem e nos protegem da falsidade dos salteadores. Os misteriosos gatos não são diferentes: com carinho seletivo somente se aproximam quando sentem sinceridade; sabem das tramas e da má intenção dos vivos, e são os escudos dos donos diante das energias malignas, das forças invisíveis. Os egípcios e os gregos antigos sabiam muito bem disso.


Na literatura e na música, alguns nomes que tanto admiro também tinham paixão pelos bichanos e pelos cães.


Vejam só a cara de satisfação do escritor e poeta Hermann Hesse brincando com o gato de estimação.








































Já o escritor Guimarães Rosa e sua esposa Aracy juntos amavam tanto os gatos que um só não bastava.




































Até o sisudo compositor Vaughan Williams comparece aqui com o seu gatinho favorito Foxy, deveras aconchegado.























E alguns estimam tanto os seus cães que os conduzem para a fama. Na Baviera, em Gmund am Tegernsee, há uma estátua de Thomas Mann brincando com Bashan, o cão preferido. O grande escritor tanto o adorava que fez dele o personagem principal de um de seus livros. Senhor e Cão é um lindo conto. Recomendo-o a todos que gostam de histórias sobre animais. No Brasil foi publicado pela editora Record em uma coletânea de novelas e contos de Mann entitulada Os Famintos.























Imagens. Agradecimentos aos sites. Thanks...!!!

Your cat was delicious - http://yourcatwasdelicious.tumblr.com
Tertulia Bibliofila - http://tertuliabibliofila.blogspot.com
Roberta Rood - http://robertarood.wordpress.com