domingo, 9 de outubro de 2011

Sobre a Verdade



Se é que realmente aconteceu, um dos trechos mais interessantes do Novo Testamento é quando Pilatos pergunta: "Que é a verdade?".

Quem pode dizer com exatidão o que foi, o que é, e o que será?

As Religiões surgem de experiências individuais que se tornam em crenças coletivas amparadas por dogmas. Ora, o mito é a base da religião, e mitos são construídos por sociedades organizadas e quase sempre tendenciosas.

Assim também a História: múltiplas são as testemunhas oculares e diversos os ângulos dos fatos observados que, posteriormente, são relatados por historiadores que podem se confundir ou, pressionados, vendem-se ao poder vigente. Por isso, no decorrer do tempo, tantos vilões e heróis, ora um ora outro, são execrados ou inocentados.

As Ciências também não possuem a palavra final, pois lidam com verdades provisórias; o que hoje é entusiástico enunciado, amanhã pode ser motivo de riso. Recorde que o nosso planeta já foi estático, recorde que a terra como centro do universo já foi idéia convicta e certa.

A Filosofia, que tende a dissecar a verdade, apoia-se em premissas, que podem ser equivocadas, dependendo da tendência unilateral do pensador. Pensar com sabedoria é dádiva de poucos. No Oriente, consideram sábios aqueles que dançam em torno de um objeto para vislumbrá-lo de todos os lados.

Restam-nos as Artes, e estas não querem provar verdade alguma; pelo contrário, com os véus do mistério obscurecem-na entre a nitidez e a névoa. As Artes são as únicas que aceitam humildemente a incerteza que há na vida e nas coisas do mundo: de que tudo pode ser e pode não ser.

Evidentemente que não estou a desmerecer a conquista das ciências, ou o esclarecimento da história, ou os benefícios da filosofia e das religiões. Quem crê em nada carrega a mesma tolice daqueles que acreditam em tudo. O que me preocupa é a estagnação pela certeza, quando o resultado das investigações torna-se em dogma religioso, científico, seja ele qual for, que estreita os caminhos, que entulha de pedras a passagem estreita, transformando as possibilidades em garganta fechada, por onde é impossível entrar ou sair, enfim, de transitar livremente.   

Talvez, naquela remota época, Pilatos, o procurador romano, só quisesse dizer: cada qual abrace a própria verdade mas, por gentileza, não a proclame como se fosse a única verdade verdadeira.