quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Há uma Mancha Cinza no Horizonte


A desolação nos campos é grande
e entristece quem vem das cidades.
Há uma mancha cinza no horizonte
e um som de asas rondando as plantações.
Talvez gafanhotos. Talvez moscas venenosas.
Não. É bem provável que seja uma nuvem apenas.

As espigas de milho, mirradas,
pendem, umas aqui outras ali,
poucas, bem poucas, diante dos olhos.
Os camponeses sentem algo mais além da fome.
Os canarinhos entoam melodias tristes.

O rádio anuncia as últimas notícias:

“Os mísseis estão preparados.
Os exércitos estão reunidos
no lugar chamado Armagedom.”

O camponês ainda se levanta, olha o tempo:
Não vai chover.
Apanha algumas espigas de grãos esparsos
e leva-as para o moinho. Depois colhe
alguns tomates de um vermelho pálido
e leva-os para a sua senhora que prepara a refeição.

As crianças estão sentadas
no degrau da varanda (todas juntas)
olhando o espantalho.

O espantalho está de braços abertos,
amarrado em cruz no arame farpado da cerca.
Alguns corvos assentam sobre o seu chapéu.
Muito velho está o paletó branco,
sovado pelo tempo, pelo bico das aves negras.
No seu rosto de abóbora: dois olhos vazios,
parecem olhar tudo ao redor.
E o sorriso, aberto a canivete,
cortado sobre as estrias da redonda abóbora,
não é patético. É um riso irônico, de dor.
Tem uma face humana, de homem, se formando
por baixo dos restos e das lascas
da máscara de espantalho.

A mulher mostra o rosto na janela
e grita para as crianças:

“Está pronto o almoço.”

E o rádio anuncia:
“Está consumado.”


(de “Ilcha – Lamentações na Ilha de Patmos”)