sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Johann Wolfgang von Goethe: 3 Canções


Canção de Mignon

Conheces a região do laranjal florido?
Ardem, na escura fronde, em brasa os pomos de ouro;
No céu azul perpassa a brisa num gemido...
A murta nem se move e nem palpita o louro...
Não a conheces tu? Pois lá... bem longe, além,
Quisera ir-me contigo, ó meu querido bem!

A casa, sabes tu? em luzes brilha toda,
E a sala e o quarto. O teto em colunas descansa.
Olham, como a dizer-me, as estátuas em roda:
- Que fizeram de ti, ó mísera criança!
Não a conheces tu? Pois lá... bem longe, além,
Quisera ir-me contigo, ó meu senhor, meu bem!

Conheces a montanha ao longe enevoada?
A alimária procura entre névoas a estrada...
Lá, a caverna escura onde o dragão habita,
E a rocha donde a prumo a água se precipita...
Não a conheces tu? Pois lá... bem longe, além,
Vamos, ó tu, meu pai e meu senhor, meu bem!

O Reencontro

ELE:
Por que estás hoje esquiva, ó minha doce amiga?
Concede um beijo a mais a estes lábios famintos...
A árvore hoje, como ontem, tem os ramos retintos
de flores que alimenta, sustém, renova e abriga.
Comparavas meu beijo às abelhas inquietas
que buscam sem cessar a flor dos seus amores,
sussurrando, a zumbir, nas moitas prediletas
o seu canto de gozo, hino ao perfume e às cores...
Ébrio de azul, de luz, perfume que bebeu,
o enxame sem descanso a faina continua...
Não há flores no chão, nenhuma planta nua...
Será que a Primavera só para nós morreu?

ELA:
Aperta-me ao teu peito! Ontem nos separamos!
E a saudade é mais suave do que todo desejo.
Sonha, querido amigo! A lembrança de um beijo
é mais doce que todos os beijos que trocamos...
A noite sem piedade veio nos separar.
Foi tão triste, à tardinha, o nosso adeus de ontem!
Que as Primaveras sempre para nós dois repontem
nas árvores, nas flores, nos frutos do pomar...

Anelo

Só aos sábios o revele,
Pois o vulgo zomba logo:
Quero louvar o vivente
Que aspira à morte no fogo.

Na noite – em que te geraram,
Em que geraste – sentiste,
Se calma a luz que alumiava,
Um desconforto bem triste.

Não sofres ficar nas trevas
Onde a sombra se condensa.
E te fascina o desejo
De comunhão mais intensa.

Não te detêm as distâncias,
Ó mariposa! e nas tardes,
Ávida de luz e chama,
Voas para a luz em que ardes.

"Morre e transmuda-te": enquanto
Não cumpres esse destino,
És sobre a terra sombria
Qual sombrio peregrino.


Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)


Tradução de
João Ribeiro (1) Roquette Pinto (2) Manuel Bandeira (3)

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá!é um grande prazer te visitar e conhecer coisas tao lindas!
Ana Coeli