terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Jorge Luis Borges: Ausência


Haverei de levantar a vasta vida
que ainda agora é teu espelho:
cada manhã haverei de reconstruí-la.
Desde que partiste
quantos lugares se tem tornado vãos
e sem sentido, iguais
às luzes no dia.
Tardes que foram nicho de tua imagem,
músicas em que sempre me aguardavas,
palavras daquele tempo,
eu terei que quebrá-las com minhas mãos.
Em que cavidade esconderei minha alma
para que não veja tua ausência
que como um sol terrível, sem ocaso,
brilha definitiva e sem piedade?
Tua ausência me rodeia
como a corda à garganta
o mar ao que se quebra.


Jorge Luís Borges (1899-1986)

Um comentário:

Anônimo disse...

lindo poema... um dos meus preferidos e o meu preferido de Borges. E se permite a tradução correta...

Original:

Tu ausencia me rodea
como la cuerda a la garganta,
el mar al que se hunde.

Tradução:

Tua ausência me rodeia
Como a corda à garganta
O mar ao que se afoga