segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

NATAL com Vaughan Williams, Britten, Rodrigo, Villa-Lobos, Poulenc e Honegger


 
Grandes compositores eruditos do século XX dedicaram-se ao tema do Natal, principalmente na Inglaterra, onde a representação da Natividade no palco é tradição, através de masques, pageants e carols, expressões típicas dos britânicos.

Ralph Vaughan Williams (1872-1958), a essência da música inglesa de todo o século XX, amava o Natal e criou várias obras natalinas, entre as quais a longa cantata Hodie, além de On Christmas Night, masque inspirada na obra de Dickens. Não foi um acaso que também sua última obra tenha sido uma peça da Natividade The First Nowell. Mas de todas a que permanece mais bela e espontânea é a Fantasia on Christmas Carols, a primeira que compôs sobre o tema. Utiliza quatro carols que o próprio compositor redescobriu nas aldeias de Somerset, Herefordshire e Sussex e preservou como folclore. O resultado é um hino contagiante, uma peça belíssima, entoada por um barítono, simbolizando o pastor, e um coro. Nesta versão são acompanhados pelas cordas e órgão.

Benjamin Britten (1913-1976), outro britânico que também investigou o folclore, e paralelamente se tornou no país o maior compositor de óperas desde Purcell, escreveu na juventude diversas peças corais natalinas: Christ’Nativity, A Boy Was Born, e a mais admirável de todas A Ceremony of Carols sobre poemas de Gerard Bullett, escritos em inglês antigo. Cantado por um coro de meninos e solistas, acompanhados por harpa, o conjunto de carols transmite paz celestial de uma beleza que enternece.

O espanhol Joaquín Rodrigo (1900-1990) pesquisou muito o folclore da Espanha antiga, com especial enfoque no século XVIII, (re)criando-o com criatividade em suas obras. Daí surgiram deliciosas peças como estas duas canções com coro que pertencem ao 'Retablo de Navidad': Cantan por Belén pastores e A la Clavelina, com sons de flauta e ritmos que só Rodrigo consegue.

O brasileiro Villa-Lobos (1887-1959) deixou-nos um imenso catálogo com obras em quase todos os gêneros eruditos, e centenas de canções folclóricas, coletadas e harmonizadas, mas poucas sobre o tema natalino. Apesar de ser uma obra de circunstância, não poderíamos deixar de lado este belo e raramente gravado Canto do Natal, música de Villa-Lobos sobre poema de Manuel Bandeira.

Na França, país que também deixou belíssimas obras sobre o Natal, encontramos o grande compositor Francis Poulenc (1899-1963), que foi 'enfant terrible' na juventude e, após a perda dolorosa de um amigo, transformou-se totalmente a ponto de se converter ao catolicismo e compor algumas das mais sinceras obras sacras do século, entre as quais estes quatro motetos a capella de uma suavidade angelical, perfeitas gemas de otimismo cristão: Quatre Motets pour les Temps de Noël (com textos em latim): 1-O magnum mysterium, 2-Quem vidistis pastores, 3-Videntes stellam e 4-Hodie Christus natus est.

E, por fim, uma Cantata de Noël, das poucas no século XX com real elaboração erudita. Última obra do suiço Arthur Honegger (1892-1955), hábil no gênero oratório e em sinfonias complexas, a peça não foge do estilo denso do compositor. O libretto de César von Arx utiliza textos latinos como De Profundis e Laudate Dominum, canções folclóricas francesas e outras conhecidas no mundo todo como Estrela de Belém e Noite Feliz. A música inicia sombriamente: o coro feminino e o coro masculino crescendo alternados sugerem a tristeza do mundo imerso nas trevas. Após um longo e uníssono Amén, um coro de crianças anuncia a luminosidade da estrela que surge trazendo as boas-novas: o nascimento do menino-Rei. O final é um hino de exaltação à alegria. Trata-se de um desfecho digno, uma despedida comovente de Honegger. Talvez não seja a mais bela, mas sem dúvida é a obra mais elaborada e densa nesta coletânea.

Eis um conjunto de obras de compositores modernos e acessíveis, que criaram em linguagem inovadora, mas não adotaram o exagerado hermetismo que quase sempre impede a comunicação com o grande público. A compilação, da maneira como está aqui, não se encontra em lojas de disco. Agrupei as peças motivado pelo gosto particular, que agora compartilho pensando no evento cristão mais importante: o Natal, um tempo de alegria e agradecimento pelo Ser divino que habitou espiritual e fisicamente entre nós.

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Ralph Vaughan William
Fantasia on Christmas Carols (1912)
John Barrow (baritone)
Choir Guildford Cathedral – String Orchestra

Gavil Williams (organ)

Barry Rose (conductor)

Benjamin Britten
A Ceremony of Carols (1942)
Cambridge King’s College Choir

James Clark (tenor)Julian Godlee (treble)
Osian Ellis (harp)
Sir David Willcocks (conductor)


Joaquín Rodrigo
Retablo de Navidad nos. 1 e 8 (1952)
Raquel Lojendio, soprano [1]
Coro de la Comunidad de Madrid
Orquestra de la Comunidade de MadridJosé Ramún Encinar (direction)

Heitor Villa-Lobos
Canto de Natal (1945)
Coro da Rádio Ministério de Educação e Cultura
Isaac Karabitschevsky (regência)

Francis Poulenc
Quatre Motets pour le Tempos de Noël (1952)
Robert Shaw Festival Singers
Robert Shaw (director)


Arthur Honegger
Cantate de Noël (1953)
Camille Maurane, baryton
Choeur National de l’ORTF
Orchestre National de l’ORTF
Henriette Puig-Roget, orgue
Jean Martinon (direction)


 

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