terça-feira, 5 de julho de 2011

Reflexões Musicais 2


É curioso notar: quase todos os inovadores sentem uma espécie de remorso após o radical avanço de fronteiras, e tentam retornar ao ponto inicial de sua formação, ou ao passado, às vezes remoto. Cito apenas alguns casos: Monteverdi, após o Orfeu e as Vésperas, escreveu uma missa no estilo renascentista. Algumas décadas mais tarde, Schütz, o pai do barroco alemão, concluiu a obra de sua vida com uma série de paixões escritas à maneira antiga. O último quarteto de cordas de Beethoven é quase um retorno ao classicismo haydniano. Ocorrera algo semelhante com Wagner depois de Tristão e Isolda: o inusitado cromatismo cedeu à claridade quase barroca de Os Mestres Cantores. Stravinsky, assim que deu ao mundo o paganismo da Sagração da Primavera, retornou ao passado em busca da voz límpida de Pergolese, de Bach e dos mestres anteriores a Bach, e no auge de seu neoclassicismo criou uma missa nos rigorosos moldes clássicos. E assim também Penderecki, talvez o mais representativo e genial criador da segunda metade do tumultuado século XX: nos limites da experimentação sonora, após a quase dissolução do que entendemos como música, de repente o compositor interrompeu o curso retornando a um estilo próximo a Brahms e Mahler. Um retrocesso, disse a crítica.

No entanto, sabemos que em tudo há um movimento de pêndulo. Quando o futuro cobre-se de neblina, o retorno ao passado é o caminho para a reflexão. Todo artista sabe: a arte que não comunica perde-se em si mesma.

Assim como toda manifestação cultural e artística, a música também evolui no contexto historico-sociologico. Após a polirritmia e todos os ismos do século XX, de todas as correntes experimentais - reflexos da fragmentação moderna da psique – politonalismo, dodecafonismo, serialismo, concretismo, abstracionismo, minimalismo, etc. a tendência do final do milênio é o sábio equilíbrio: uma expressão que aproveite todos os ensinamentos antigos e modernos associados à clareza de forma e ao hermetismo moderado. Enfim, criatividade aliada a uma linguagem mais comunicativa.

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