Em 1913, o poeta indiano Rabindranath Tagore recebeu merecidamente o prêmio Nobel, o primeiro asiático a recebê-lo. Como poeta e escritor criou em quase todos os gêneros, além de ser também compositor e pintor. E foi homem sábio, coerente com suas crenças, tanto que recusou em protesto político o título de Sir que lhe oferecera a Coroa Britânica. O seu lirismo é belo, muito belo, como podemos ler nos três pequenos poemas que seguem. São poesias bastante conhecidas e citadas, mas é sempre bom relembrá-las. Curiosamente, a doçura e a melancolia de Tagore possuem muita semelhança com os grandes poetas chineses da Dinastia T’ang: Li Po e Tu Fu.
Flor-de-Lótus
No dia em que a flor de lótus desabrochou
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão,
procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão,
procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração.
Se Não Falas
Se não falas, vou encher o meu coração
Com o teu silêncio, e agüentá-lo.
Ficarei quieto, esperando, como a noite
Em sua vigília estrelada,
Com a cabeça pacientemente inclinada.
A manhã certamente virá,
A escuridão se dissipará, e a tua voz
Se derramará em torrentes douradas por todo o céu.
Então as tuas palavras voarão
Em canções de cada ninho dos meus pássaros,
E as tuas melodias brotarão
Em flores por todos os recantos da minha floresta.
De “Gitanjali”
Deixa a cantilena, o cântico
e a recitação de contas de rosário!
A quem veneras neste recanto
solitário e escuro de um templo de portas fechadas?
Abre teus olhos e vê
que teu Deus não está diante de ti!
Ele está onde o agricultor está lavrando o chão duro
e onde o pedreiro está rachando pedras.
Ele está com eles no sol e na chuva,
e sua roupa está coberta de poeira.
Remove teu manto sagrado
e como Ele desce para o chão empoeirado!
Libertação? Onde se encontra essa libertação?
Nosso mestre assumiu pessoalmente com alegria
os vínculos da criação;
Ele está vinculado a nós para sempre.
Sai de tuas meditações
e deixa de lado tuas flores e o incenso!
Que mal há se tuas roupas ficam gastas e manchadas?
Encontra-o e fica com Ele na faina e no suor de tua face.
Rabindranath Tagore (1861-1941)
Mandala Flor-de-Lotus
Direitos: Petramística. Desenho de Renata França
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