terça-feira, 10 de março de 2009

Reflexões Musicais 1


Os novos compositores têm me cansado. Digo mesmo que têm me deixado frio o coração. Quando o caminho mergulha em neblina, temos que nos apoiar e buscar forças no que ficou de bom para trás. Revisitar os velhos e eternos clássicos sempre é um alento, embora não seja a total e completa solução para o caos. Ao menos, nos dá forças e nos fortalece a inspiração para prosseguirmos.

Havemos de concordar... Parece que está difícil criar algo novo com solidez atualmente, não é? Parece que as artes estão entrando em declínio faz tempo. Os artistas estão meio perdidos, sem saberem qual rumo tomar. Mas isso acontece mesmo em todo período de transição. Relembre o final do século XVI, entre a Renascença e o Primeiro Barroco, com Monteverdi iniciando a Ópera, tomando caminho novo, e mudando o rumo da história, pois a polifonia já havia atingido o auge e estava em declínio pelo excesso. Relembre o último Barroco do século XVIII... Bach, Handel, D. Scarlatti e Rameau foram os últimos representantes do Barroco, tiveram que sair de cena, não por declínio ou esgotamento da criatividade, mas sim porque outra época surgia e pedia outras estéticas, devido às mudanças históricas, período que antecede a revolução francesa, alterando os valores da nobreza. Nessa transição ocorreu o Rococó e a seguir o Classicismo: os filhos de Bach, Haydn, Mozart, Gluck, Boccherini, que considero uma fase intermediária, ponte de preparação para o longo Romantismo. E neste período, foi Beethoven, semelhante a Monteverdi, quem abriu os novos caminhos. De certa forma, ambos encerram uma época e iniciam outra. Depois, outra fase caótica, o final do século XIX e início do XX, com a genialidade, porém repetitiva, de Mahler, R.Strauss, Reger, Rachmaninov, Sibelius, etc., com novas tentativas oferecidas por Scriabin, Busoni, Satie e consolidadas por Stravinsky, Schoenberg, Bartók.

Pergunto: agora, com a arte musical levada ao excesso pelo experimentalismo cerebral, e por isso mesmo exaurida, já que a arte hermética sem emoção perde o seu sentido primordial, como serão os novos caminhos? Isso quanto à música, e as outras manifestações artísticas?

Na verdade, no terreno da música, tenho refletido na semelhança entre o século XVII e o século XX. Ambos são séculos de experimentação, importantes também, sem dúvida, porém poucos compositores deixaram obras consolidadas, tanto naquele como neste século mais recente. Stravinsky seria um Monteverdi do século XX, embora não tenha consolidado algo tão importante como foi o caso da Ópera que tem durado, com poucas alterações no decorrer do tempo, se comparada à estrutura dos outros gêneros. No século XVII, Schütz, Buxtehude, Pachelbel, Stradella prepararam as vias para a suprema arte de Bach e Handel, da mesma forma que muitos compositores do século XX, experimentando em excesso, abriram caminhos para outros que hoje atualmente vivem em algum lugar, iniciando a construção de nova obra.

A tendência da Humanidade é seguir as alternâncias. Conforme a Iogha, há uma tendência lógica de seguir passo a passo o sentido das camadas metafísicas: coração, cérebro e mente espiritual. O século XIX foi o período da emoção passional, o XX foi extremamente cerebral. Espera-se, pela sequência, tomando como base a energia que tende a mudar e se elevar, que o século XXI seja o tempo da espiritualidade, após as tormentas da transição que vivemos. Penso sinceramente que muitos criadores da música de nossos conturbados tempos serão lembrados como importantes contribuintes, porém poucos serão lembrados como consolidadores de uma arte equilibrada e definitiva para a época. O tempo mostrará isso. Quanto à música do século XXI, esta ainda não foi escrita. Esperançoso, creio que os novos Tempos, ao aproximarem de seu auge, mostrarão uma arte que unirá a grandeza de Bach, de Mozart e de Beethoven em um único estilo: com conteúdo em uma Espiritualidade elevada como a de Bach, estética com base na Harmonia das Esferas de Mozart, junto com os ideais sublimes de Humanidade defendidos por Beethoven.

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