sábado, 18 de abril de 2009

Cântico ao Amigo



Como se diamante fosse,
na palma da mão entre os cinco dedos,
devemos guardar o amigo sincero,
protegê-lo das intempéries, cuidar dele
como a mais divina das dádivas.

Amigo não é apenas o moinho
que colhe as nossas tempestades,
não é aquele que tem ombros constantes só
para suportarem o peso de nossas dúvidas,
quando o crepúsculo tinge-se de rubro.
Mas também não é aquele que se lembra só
quando há banquetes e honrarias
junto à multidão pelos méritos efêmeros.

Amigo é aquele que acalenta nossas lágrimas
e também o que sorri com nossas conquistas,
nas horas em que ainda é possível sorrir.

Amigo, diga a ele, tenho-te aqui junto comigo,
velado por este grato coração, porque sei:
tu és a bússola e o abrigo sereno,
tu és as ramas que surgem após os vendavais,
tu és o porto e os velames da nau que chega,
tu és a voz e o silêncio da voz.

Estou aqui para te dizer: que sim,
tu resplandeces pelo caminho,
soerguendo a lanterna da compreensão,
muito além do lodaçal do mundo,
onde se alastram a mentira e a hipocrisia.
Tendo-te comigo, tenho a riqueza do tempo.

E tu, que ainda te alheias pelas tarefas diárias,
não te esqueças de que, em algum lugar,
o teu amigo, após a carta enviada,
contempla o horizonte, esperando notícias tuas,
como os mineiros soterrados no túnel
oram pela mão que liberta,
como na choupana o esquecido ancião
anseia pelo aceno da filha distante,
tão iguais a lírios e jasmins
que aguardam na brisa o pólen.

Dá ao amigo o riso e o amparo,
o descanso e a prece, o agradecimento
e as tuas melhores horas.

Fiquemos atentos, enquanto for tempo:
De nada adianta darmos valor às pessoas
depois de, dolorosa e irrecuperavelmente,
perdidas de nós. Pois quem perde um amigo,
perde dentro de si uma parte de si mesmo.

"Cuidemos de nossos jardins..."
- escreveu Voltaire em Candide.

Cuidemos, portanto, de nossos jardins...!
enquanto pulsa ainda pelas sendas do mundo,
no meio de nós, o coração do amigo.

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